"...há gatos de rua, abandonados de fresco ou vagabundos de nascimento, que de vez em quando nos batem à porta para nos pedir comida, cuidados e atenção. Quase sempre, enquanto lhes damos uma taça de comida ou lhes limpamos alguma ferida, contam-nos a história da sua vida e, na esmagadora maioria dos casos, acabam por confessar o mesmo desejo secreto…chiiiuu…uma casa nova…e um dono simpático…"

quinta-feira, 20 de março de 2008

Mimi!

Amantes de gatos fofos, atenção! Para quem acha que gatos independentes e donos do seu nariz são bons só para o vizinho do lado e prefere um gato que quase não se consiga distinguir de um Ursinho Carinhoso, nós temos a solução! Mimi é o seu nome, Chocolate o seu apelido! Completamente doce, ela derrete-se com qualquer mimo.
Publicidade à parte, a Mimi é um amor. É uma gata adulta e com todos os motivos possíveis para ser um animal traumatizado. Se a história da Tulipa tem traços cinematográficos, a da Mimi tem tudo para ser um best-seller.
Gatinha bebé, ela foi adoptada por um homem solitário, que precisava de companhia. Um dia o homem chegou a casa, embriagado, e atirou a Mimi contra uma parede. Em seguida, pô-la no lixo. Alguém soube do sucedido e, antes da recolha do lixo, uma senhora foi buscá-la e tratou-a. A Mimi recuperou bem mas cresceu e, como as pessoas conseguem ser muito estranhas às vezes, os novos donos decidiram prendê-la com uma corda, junto do cão. Um dia, mudaram de casa e deixaram a Mimi e o cão presos, sem água nem comida. Uma outra vizinha decidiu alimentar os cães e soltou a gata, que vagueou por todos os quintais até encontrar um gato simpático que partilhou com ela a sua comida (o gato da minha avó, por acaso…). A amizade deu em namoro e, como os gatos são apressados, o namoro deu em gravidez e a Mimi teve 4 lindos bebés. A intenção não é fazer um drama piedoso nem levar-te às lágrimas, caro leitor, mas a história da Mimi é triste e merece um final feliz. Por isso, vamos contar-te tudo. A Mimi teve apenas 1 dia para cuidar os seus bebés, a sua primeira ninhada. O resto deves imaginar…
Bem, como disse, os gatos são apressados. E, depois da gravidez, o namoro já deu em separação: litigiosa! A Mimi é um amor de gato, garanto, mas há certos machos que lhe fazem subir a mostarda ao nariz…
Conclusão: a Mimi é uma gata linda e desimpedida, saudável, nada exigente com a comida e muuuuuito doce. Adora estar ao colo (e esconder o focinho!) e é uma óptima companhia. Neste momento está a dormir ao frio, sem o mínimo conforto e sem uma alimentação adequada. Caro leitor, a Mimi precisa mesmo de um bom dono. É o mínimo que lhe podemos dar para recompensá-la por tanto sacrifício. Os gatos falam, pois. E às vezes, por mais que tentem disfarçar, dizem coisas muito tristes. Gostava de mudar a história da Mimi. Ela é valente, mas às vezes chora às escondidas…




Tulipa!



Deus dos Gatos! A história da Tulipa dava um filme e três sequelas... Quando encontrámos a Tulipa ela era já uma old lady, uma veneranda anciã com muitos anos de experiência e, infelizmente, de maus-tratos. Quem vê a bela gata das fotos mal consegue imaginar o animal faminto, anémico e doente que ela já foi. A história da Tulipa começa por ter algumas semelhanças com a da Mia mas, infelizmente, é muito mais complicada. Hoje, ela está bonita, dócil e bem tratada, mas sofre de uma doença crónica e jamais voltará a ser um gato completamente saudável. Vamos tentar resumir a história, mais ou menos trágica, desta bela Tulipa:
- teve casa e donos, mas assim que ficou doente foi abandonada
- desenvolveu uma infecção uterina que a debilitou muito
- foi atropelada e perdeu totalmente a sensibilidade da cauda e órgãos genitais
- consequentemente, a Tulipa sofre de incontinência
- encontrámo-la numa altura em que, para além de tudo isto, ela se encontrava anémica e quase sem capacidade de se alimentar sozinha
- perto de ser um caso perdido, esteve internada e recuperou graças à boa-vontade dos Veterinários da Clínica VetPóvoa a quem, desde já (e sempre), agradecemos o cuidado e a disponibilidade
- sem ter um lugar para onde ir depois do internamento, teve de ficar fechada num sótão (emprestado), sem as condições ideais para uma boa qualidade de vida
- actualmente, continua sem dono e sem casa, confinada a um sótão solitário e limitada pela idade e pela doença.
Conclusão: depois de todo este drama, surge a famigerada questão da eutanásia, certo? Sim, surge ao leitor como nos surgiu a nós. Como nos surge, aliás, de cada vez que a Tulipa tem algum problema. Mas, tal como surge, esta hipótese desaparece perante o ronronar infinito desta gata que teima em viver e em recuperar de cada vez a saúde lhe prega alguma partida. A Tulipa é um gato dócil, que não recusa tratamentos e que tem suportado tudo. E tudo o que ela precisa é de um espaço onde possa acabar os seus dias e de alguém que tenha a bondade de lhe dar 3 coisas: comida, mimos e cuidados de higiene.
Curiosidade: vamos cometer uma inconfidência. Ela pediu-nos segredo, mas talvez não haja problema em partilhar isto convosco… Sabem qual é a invenção preferida da Tulipa? TOALHITAAAAAAAS!!!!!!!!!!!!!!

Mia!



A Mia ainda é uma menina. Bateu-nos à porta há cerca de 7 meses e tem partilhado connosco a sua história desde então. Filha da Dona Urraca, uma linda senhora que em breve visitará este blog, nasceu na rua e por lá tem crescido, sofrendo na pele as desvantagens de ser um gato vadio. É verdade que há muitos gatos vadios que vivem muito bem como estão e que nunca precisaram de um dono, e ainda bem que é assim. Mas a Mia não é gato de quintal nem de terreno baldio, vive numa rua cheia de carros, onde já vimos morrer dezenas de gatos. Na verdade, a Mia habitou-se demasiado à presença dos carros e ganhou o hábito (irritante…) de os ignorar. Pois bem, num desses dias em que a Mia estava ocupada demais a correr atrás de uma folha seca para reparar no que quer que fosse, foi atropelada. Nada de grave, mas também nada de bom. Nada fora do lugar, nada de patas partidas, nada de arranhões mas, ooops…a cauda! A Mia deixou de sentir a cauda e perdeu parte dela. Mais uma história de gatos com um final triste? Nem por isso, os gatos são imprevisíveis… quando já dávamos voltas olímpicas à cabeça a pensar numa maneira de juntar dinheiro (graaande problema) para pagar a amputação da cauda da menina, ela recuperou a sensibilidade e cicatrizou.
Hoje a Mia é um animal bonito e bem-disposto e tem cauda suficiente para ser um gato como outro qualquer. É muito dócil, come quase de tudo, adora colo e mimos e corre um perigo constante de morrer atropelada, como quase todos os seus irmãos. Ignorando este perigo, a Mia é um gato feliz. Mas tem um hábito estranho: assim que vê uma porta aberta corre desesperadamente e faz de tudo para entrar.
Perguntámos-lhe uma vez, enquanto ela corria: "Por que fazes isso, Mia?". Ela hesitou, mas respondeu: "Gostava de ver como é estar numa casa, um dia…"




Miau-Miau

Os gatos falam. Sim, senhor, eles falam. E dizem coisas extremamente inteligentes. Ok, às vezes também dizem coisas completamente patetas, mas isso faz parte de uma coisa chamada charme felino… Não, não vale a pena empoleirá-los numa gaiola e dar-lhes sementes de brinde para dizerem palavrões. Também não vale a pena fechá-los num laboratório, ensinar-lhes o alfabeto e ver quanto tempo leva até que sejam capazes de pedir um hambúrguer (imagine-se, um hambúrguer…). Os animais são coisas sérias.
Não são brinquedos, nem artistas de circo, nem cobaias do progresso humano ou, pelo menos, não deviam sê-lo.
Ora bem, voltemos à questão da eloquência dos gatos. Quem tem gatos, sabe do que estamos a falar. Quem tem cães, sabe do que estamos a falar. Quem tem hamsters, sabe do que estamos a falar, ainda que os hamsters disfarcem muito bem. Quem tem peixinhos de aquário também sabe do que estamos a falar, ainda que os peixinhos de aquário disfarcem ainda melhor. Enfim, os bichos falam, e MUITO.
Mas os gatos não escrevem. Nem os cães, nem os hamsters, nem os peixinhos de aquário. E há gatos de rua, abandonados de fresco ou vagabundos de nascimento, que de vez em quando nos batem à porta para nos pedir comida, cuidados e atenção. Quase sempre, enquanto lhes damos uma taça de comida ou lhes limpamos alguma ferida, contam-nos a história da sua vida e, na esmagadora maioria dos casos, acabam por confessar o mesmo desejo secreto…chiiiuu…uma casa nova…e um dono simpático…
E nós, humanos bem educados, achámos por bem criar um blog onde possamos partilhar estas histórias e fazer com que elas cheguem aonde devem chegar: aos ouvidos de um novo dono.
Caro leitor, se tiveste paciência de chegar até aqui, és decerto digno da confiança destes nossos amigos felinos. Este é um blog desesperado: criado para a adopção de gatos que precisam realmente de um dono e de uma casa. Alguns serão bebés e terão menos para contar mas mais para aprender. Outros serão adultos e terão muito para partilhar, porque já passaram por muito. Outros ainda serão doentes e necessitarão da ajuda de quem possa e queira devolver-lhes a alegria e a dignidade. Alguns, por vezes, serão…cães. Felizmente, no nosso caso (quase que podemos dizer, no nosso "território"), os cães abandonados ou em risco, são em muito menor número do que os gatos, mas é preciso contar sempre com os imprevistos…